terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Assassinato de Abraham Lincoln

O assassino encarou no seu rosto cavado e incompetente o justo e esperançoso olhar do seu arqui-inimigo. Ele limpou suavemente mais uma vez o cano da sua pistola, a morte personificada por um brinquedo inocente, sendo o causador dos actos executados por aquele objecto o ser humano e a sua mentalidade mortal e vingativa. Naquela noite, ele iria vingar os sofredores daquele acto tão injusto e irracional. A ele repugnava-o aquela acção de justiça social. Aquele acto de igualdade humana dava uma margem de desigualdade a todo o povo daquele país. Naquele camarote estava situado o seu rival, o causador da sua angústia mental. Naquela noite ele mudaria a História da sua nação. Naquela noite a justiça ecoaria como um grito de desespero por todo o Mundo, mostrando a diferença entre as raças e dando um sentido de justiça a todos os Homens que lutaram pelas ideias que ele defendia. No palco daquele teatro a peça decorria sem interrupções. Naquela noite no camarote presidencial um vulto jazeria, e se não fosse o do presidente seria o dele. Ele limpa mais uma vez o cano da arma que ele carregava nas mãos. Aquele seria o dia da sua vitória, mesmo que padece-se perante a força daquele líder. A Humanidade havia de se lembrar dele incessantemente como o responsável pela mudança dos padrões sociais da sua nação e da sua pátria.
O clandestino invade sub-repticiamente o camarote retirando da sua incómoda casaca a sua arma mortífera e vingativa, apontando despercebidamente à cabeça do presidente. Era aquele o dia da sua mudança. O dia da mudança da justiça do povo americano. A peça decorria calmamente sem interrupções, e o momento oportuno da sua vingança estava próximo. A arma estava limpa, o plano executado e a sua fuga inesperada. Aquela acção mortífera e vingativa havia de o meter no patamar mais alto da igualdade da História Americana. O público, o conjunto de seres humanos que iriam contemplar o erguer daquela nação abafam o som daquele camarote tão discreto. Premindo energeticamente o gatilho da mortalidade daquele objecto, um ligeiro projéctil voa em direcção ao presidente. O som, o resplandecente barulho daquele tiro sacia a raiva daquele ser vingativo. Aquele tombo, aquele suave e despreocupado tombo fascina o assassino. Ele, fruindo das atenções lançadas para o falecido e padecido corpo do 16º Presidente dos Estados Unidos da América salta para o meio da plateia, pondo-se na imprevista fuga gritando com a fome saciada por aquele homicídio de justiça racial “Sic semper tyrannis!”. Naquele dia John Wilkes Booth, assassino do então actual presidente dos Estados Unidos da América mudou a História de um povo, de uma nação, da justiça social e humana.
Francisco Barata

domingo, 30 de janeiro de 2011

...short story...tesoura de podar a realidade...

Percorria o caminho embalado como que numa partitura de um martelo pneumático. As curvas eram apertadas e a ruas eram estreitas e íngremes, com piso irregular, paralelos, a Ford transit bege, serpenteava convulsivamente, escoltada pelos batedores da GNR. A euforia das sirenes azuis, este espectáculo, no mundo em que nasceu, tem sempre uma assistência apaixonada. O lírico aparato na passagem dos condenados, foragidos, julgados, sentenciados, executados, amotinados, que sempre induzem, em quem observa do ramerrão quotidiano, uma velatura estética insólita.
Desde pequeno tivera sempre dificuldade em apertar e desapertar os sapatos, aquele nó real fora sempre algo de intrigante para ele.

Não bramiu um revólver, não disse “isto é um assalto”, não haveria necessidade de chegar a tanto, não era na realidade um assalto, seria insensato, seria incapaz de o fazer, não a alguém que o recebeu no balcão de forma tão simpática, alguém no seu último dia de trabalho, amanhã… a tão merecida e ansiada reforma, exibia uma mudança radical no penteado, iria, a partir de agora, à semelhança de Hillary Clinton, deixar o cabelo crescer pelos ombros, com um gancho agarrando-o no alto da cabeça, imaginou que ela traria na carteira a foto dos netos que comovidamente as exibia aos clientes que lhe dessem mais tempo para a conversa. Ensaiou as palavras exactas: “Ponha todo o dinheiro dentro destes dois sacos! Discretamente! Faço questão que ninguém aqui se magoe”. Por momentos, ela pareceu exibir um olhar sádico de revolta para com aqueles caracóis bem definido, na magia do tioglicolato de amónio, num loiro a condizer com a sua idade, outrora e sempre atrás do balcão, agora deixaria para trás. Uma verdadeira partner dissimulada?
Notícia de última hora: ”O famoso ilusionista Arnold Dwayne nome verdadeito e que manteve como artístico, escapou de uma carrinha celular que tinha acabado de estacionar à porta do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em Lisboa, para onde tinha sido levado a fim de ser interrogado, após um bem sucedido assalto a uma agência do banco Lennon Brothers na Cruz-de-Pau. O detido encontrava-se algemado a uma corrente que rodeava a cintura da sua túnica cor-de-rosa, tendo estreado as novas algemas love, forradas com pelúcia vermelha, apontadas como de alta segurança.
O ilusionista recolhia, no campo pequeno, os aplausos do seu público enquanto a polícia se deparava com a carrinha celular deserta, conseguindo resgatar as algemas que Dwayne pendurou juntamente com a gravata do condutor do veículo celular na casa de banho do ministério da administração interna, o que levou à demissão imediata do ministro da tutela confrontado com o remoque que alastrou no cisma. O ilusionista, nascido na famosa Peshkopi onde mantém instalado o seu quartel-general, a empresa e de onde continua a expandir o seu rentável negócio e a crescente fama internacional, ficou famoso por casar com a famosa pianista de circo Betje Janneke, e por realizar muitos truques de magia de grande subtileza como levar o actual primeiro-ministro português a copular com um bode troglodita homossexual.
Nunca teve necessidade de explicar os seus truques, a realidade fantástica é mais aceite e menos bizarra que a realidade em si, mesmo depois de desmascarado, no público o truque acciona um disfarçado encantamento na censura interna, uma tesoura de podar a realidade, instalando o bálsamo da ficção.
Desde pequeno tivera sempre dificuldade em apertar e desapertar os sapatos, aquele nó real fora sempre algo de intrigante para ele.


Ana Monteiro

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Novos Talentos Literatura FNAC/TEOREMA

O Atelier de Escrita da Escola Secundária Frei Heitor Pinto concorreu ao "Novos Talentos Literatura FNAC/TEOREMA" apresentando 5 (cinco) contos inéditos, dos seus membros, a concurso.