O assassino encarou no seu rosto cavado e incompetente o justo e esperançoso olhar do seu arqui-inimigo. Ele limpou suavemente mais uma vez o cano da sua pistola, a morte personificada por um brinquedo inocente, sendo o causador dos actos executados por aquele objecto o ser humano e a sua mentalidade mortal e vingativa. Naquela noite, ele iria vingar os sofredores daquele acto tão injusto e irracional. A ele repugnava-o aquela acção de justiça social. Aquele acto de igualdade humana dava uma margem de desigualdade a todo o povo daquele país. Naquele camarote estava situado o seu rival, o causador da sua angústia mental. Naquela noite ele mudaria a História da sua nação. Naquela noite a justiça ecoaria como um grito de desespero por todo o Mundo, mostrando a diferença entre as raças e dando um sentido de justiça a todos os Homens que lutaram pelas ideias que ele defendia. No palco daquele teatro a peça decorria sem interrupções. Naquela noite no camarote presidencial um vulto jazeria, e se não fosse o do presidente seria o dele. Ele limpa mais uma vez o cano da arma que ele carregava nas mãos. Aquele seria o dia da sua vitória, mesmo que padece-se perante a força daquele líder. A Humanidade havia de se lembrar dele incessantemente como o responsável pela mudança dos padrões sociais da sua nação e da sua pátria.
O clandestino invade sub-repticiamente o camarote retirando da sua incómoda casaca a sua arma mortífera e vingativa, apontando despercebidamente à cabeça do presidente. Era aquele o dia da sua mudança. O dia da mudança da justiça do povo americano. A peça decorria calmamente sem interrupções, e o momento oportuno da sua vingança estava próximo. A arma estava limpa, o plano executado e a sua fuga inesperada. Aquela acção mortífera e vingativa havia de o meter no patamar mais alto da igualdade da História Americana. O público, o conjunto de seres humanos que iriam contemplar o erguer daquela nação abafam o som daquele camarote tão discreto. Premindo energeticamente o gatilho da mortalidade daquele objecto, um ligeiro projéctil voa em direcção ao presidente. O som, o resplandecente barulho daquele tiro sacia a raiva daquele ser vingativo. Aquele tombo, aquele suave e despreocupado tombo fascina o assassino. Ele, fruindo das atenções lançadas para o falecido e padecido corpo do 16º Presidente dos Estados Unidos da América salta para o meio da plateia, pondo-se na imprevista fuga gritando com a fome saciada por aquele homicídio de justiça racial “Sic semper tyrannis!”. Naquele dia John Wilkes Booth, assassino do então actual presidente dos Estados Unidos da América mudou a História de um povo, de uma nação, da justiça social e humana.
Francisco Barata