quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Esperança

A esperança,
É a crença numa utopia,
É um barco que procura o porto,
É uma palavra que acalma,
É um estado de espírito
Que conforta a solidão
Da imortalidade da alma,
Da tristeza do coração,
Que possibilita a capacidade
Da razão.

A esperança
É uma parte do sentido
Da vida e do desespero
Pois sem tristeza,
Sem dor,
Sem uma despedida,
Não existe esperança
Nem que fosse dada
Ou desperdiçada,
Por parte de quem espera
A sua utopia realizada.

A esperança
É útil no conforto
Mas também causa
Um grande desconforto
Pois causa dor
Haver a impossibilidade
De as esperança serem irrealidade
E serem apenas pó,
Pura utopia,
Algo que não se realiza,
Algo que existe,
Mas não subsiste. 




Francisco Miguel Barata

domingo, 12 de dezembro de 2010

O ESTADO SOCIAL - Da ataraxia à apatia

Com a evolução da hominização, a espécie humana teve necessidade de se organizar em sociedade, grupos, etnias, para melhor se defender e sobreviver, face à agressividade das circunstâncias naturais. Com a continuação do desenvolvimento, e a sua capacidade imaginativa e racional, o homem foi criando diferentes tipos de sociedade e diferentes estratificações dentro da sociedade. A divisão de tarefas implicou, de acordo com a forma como cada tarefa é valorada, a criação de classes sociais. Desde os tempos imemoriais que esta divisão social se hierarquizou. Ora como os homens, nas suas actividades, não são todos iguais, também nas classes sociais, se instalaram as classes dominantes e as dominadas, que, de acordo com a época histórica, se podiam inverter ou dar origem a revoluções.
                Chegamos aos tempos contemporâneos e dos vários regimes políticos, parece que a democracia é o menor mal na governação dos direitos e deveres de cada cidadão. Não devendo ser a arte de bem falar e argumentar, à maneira sofista, para seduzir, manipular, ela devia ser o símbolo da justiça social, da equidade de oportunidades e do direito à liberdade nos mais variados aspectos.
Como é próprio das sociedades humanas, a organização política é cíclica. Há periodicamente revoluções. Constituem-se novos paradigmas de realizar os objectos. Na sociedade portuguesa houve uma revolução ou mudança de paradigma político com vista à realização daqueles objectivos. Prometeram-nos que a subida de nível de vida seria uma realidade para todos; prometeram-nos que com novo regime económico e com as ajudas da CEE, não teríamos necessidades e haveria uma igualdade de classes ( seriamos todos ricos), onde nos livraríamos do sofrimento do trabalho escravo; onde cada um teria direito ao prazer de realizar as suas necessidades sem grandes preocupações. Prometeram-nos e deram-nos um Estado social, que suportaria todas as desigualdades. Prometeram-nos um estado de ataraxia epicurista. Prometeram-nos um Estado de bem-estar, onde não haveria individualismos nem corrupção de interesses. Prometeram-nos um estado social que resolveria os problemas dos mais fracos e proporcionaria a equidade económica e a justiça social. Agora, os valores materiais, que adquiriríamos sem esforço, são a essência da sociedade. Prometeram-nos prestações sociais compensadoras.
Perante isto, o laxismo ético e cultural passou a ser a matriz fundamental para a sobrevivência. O terreno ficou fértil para o liberalismo selvagem, de onde nasceu o consumismo e fomentou a massificação sócio-económica. Os governantes na sua ânsia de poder inundavam-nos com cenários, estatísticas e objectivos que, pela ilusão do sonho, revigoravam a nossa ataraxia. As estruturas políticas foram-se complexificando, na ânsia de o Estado democrático abarcar todos os interesses instalados. Nomearam-se administradores “ad hoc” de acordo com as circunstâncias e “lóbis” correspondentes. As burocracias e instituições estatais aumentaram proporcionalmente ao número de “ jobs for boys” a satisfazer.  
Os grandes grupos económicos encontraram o campo propício a manifestarem as suas “habilidades”.  Para que o País entre no “pelotão da frente europeia”, dizem, é necessário fazer muitas auto-estradas, grandes aeroportos, TGVs, e outros afins. As pequenas economias e os pequenos agricultores, iludidos pelos subsídios ( a subsídio-dependência), o comércio local,  pela fuga dos clientes, para novas soluções, foram estiolando. As populações começaram a ser traídas pela vida e até pelo Estado, dito democrático e social, que as tratava como dependentes. As consequências não se fizeram esperar. A crise instalou-se. Mas não para todas as classes sociais. Certa industria e os campos deixaram de produzir, as aldeias desertificaram-se, os centros das pequenas cidades tornaram-se um deserto. Os interesses e participação culturais deixaram ser atractivos, perante os estímulos mais hedonistas. O desemprego manifestou-se. As famílias começaram a endividar-se para manter a ilusão social adquirida. Dizem, “vivíamos acima das nossas possibilidades”, mas os decisores público, empresários e banqueiros, sempre alimentaram essa vida. Era uma forma de alimentar muitos egos, levando a um o Estado social, que aprisiona e nos aliena nas suas formas, tratando-nos como rebanho acéfalo.
 Claro que tudo isto tinha de levar a uma crise mais profunda, não só económica, como ética e política. Agora já se defende que o Estado social, que temos, parece ter os seus dias contados. Os apoios sociais começam a ser retirados. A chamada “sustentabilidade” está a levar a saúde, a educação e a solidariedade social, para a definição de que já não são atributos essenciais do Estado. O sistema económico existente “anda pelas ruas da amargura”. Procuram-se novas alternativas à desertificação. Mas tardam em chegar de forma a satisfazer as necessidades dos locais. Procura-se a solução no turismo cultural, que hoje se quer implementar, mas pelos vistos as populações continuam na mesma, não resolvendo os problemas dos residentes. Afinal que Estado social temos?
 Mas, apesar do descontentamento e das interrogações, as populações tornaram-se abúlicas. Perante as incertezas do futuro instalou-se a apatia, a ausência de consciência crítica e a vivência da cidadania. Como diziam os estóicos, “ sustine et abstine – sofre e abstém-te. O que tem que ser tem muita forçar. O destino está marcado e nada podemos fazer contra ele. O “chefe” é que sabe o que é melhor. O fatalismo, próprio do povo Português, está a implementar-se na sociedade civil.
 Perante esta apatia, resultante do excesso de ataraxia, do “tempo das vacas gordas”, torna-se necessário revitalizar o tecido social, a sociedade civil, ou até fazer inovação social, onde a humanização e solidariedade, a participação activa, a transparência sejam formas a dar mais coesão social e, todos e cada um, sintam o dever, com direitos, de que vale a pena viver e continuar a aventura da vida social, mais justa e mais equitativa. A participação e vigilância cívica devem ser a atitude filosófica que devemos assumir, para que a organização social seja de todos e não de alguns. Só assim assumiremos a nossa cidadania de homens livres e responsáveis. Muitos têm assumido esta faceta, sendo reconhecidos internacionalmente. Mas o “comum dos mortais” e a “dinâmica” dos políticos, está a alhear-se da responsabilidade que lhes cabe na construção social dos novos tempos. Mas, como alguém disse, “ I can”.  Tenhamos motivos para ser positivos.

 Covilhã, 10 de Dezembro de 2010
                                                                                                  Manuel Bento Fernandes

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tão só

(No nosso Atelier de Escrita decidimos produzir uma letra para uma canção do Tony Carreira, mesmo não sendo aficionados do cantor nem desta forma de escrita, mas  reconhecendo o seu importante papel social, isto torna o desafio mais aliciante e nada, mas mesmo nada, fácil... como se diz agora: "saímos da nossa zona de conforto"...)

Os meus pesados passos eram lentos como nunca
tardando mais um outro, que haveria ter de dar.
Olhei então em volta, estranhando o teu silêncio
Eram apenas lágrimas, a forma deste andar

O brilho nas estrelas, apagava o meu sentir
Perdi-lhe todo o rasto, sem caminho a percorrer
Olhei então em volta, estranhando o teu silêncio
Era teu adeus, muito além do querer.
 
Eu estava ali tão só
Eu estava ali sem nada
Arrastando-me em meus pés,
Era sempre mesma estrada

Eu estava ali tão só
Eu estava ali sem nada
Nada mais em minhas mãos
Era sempre a mesma estrada

Os meus pesados passos, vadiavam no passado
Ficaste tal e qual, indiferente à minha dor
O meu perdido corpo, o silêncio em tuas mãos.
Negando doçura, brilho e calor.

Eu estava ali tão só
Eu estava ali sem nada
Arrastando-me em meus pés,
 Era sempre mesma estrada

Eu estava ali tão só
Eu estava ali sem nada
Nada mais em minhas mãos
Era sempre a mesma estrada
Ana Monteiro

Lembrança de Amor

(No nosso Atelier de Escrita decidimos produzir uma letra para uma canção do Tony Carreira, mesmo não sendo aficionados do cantor nem desta forma de escrita, mas  reconhecendo o seu importante papel social, isto torna o desafio mais aliciante e nada, mas mesmo nada, fácil... como se diz agora: "saímos da nossa zona de conforto"...)

Houve em tempos um lugar.
Onde conheci o amor,
Onde descobri o teu sorriso.
Leve e sem dor,
Onde aprendi a sonhar.
Onde aprendi a viver,
E viver a cantar.

Foram tempos de libertação,
De vestes de latão,
De risos e euforia.
Tempos de paixão,
Tempos de coração,

Foram vidas com muitas vidas
Vidas com muitas lidas.
Vidas de amor e dor,
Em que o sonho de te cantar,
Era apenas para te amar.

Tempos idos, estes de cor.
Em que o teu amor,
Alimentava o meu fervor.
O teu sorriso
Enchia corações,
E as minhas canções.
Tempos de alegria,
Tempos de fantasia.
Em que a vontade de ser cantor,
Era apenas para cantar o teu esplendor.

Eram tempos de magia,
De verdadeira utopia,
Em que o sentir era apenas viver
E vivia apenas para te ver.
Cantava-te odes de amor,
Tal um galanteador,
Para a sua dama enamorar
Com versos de encantar.

Mas os tempos mudaram
Teu brilho desapareceu e a minha voz
Começou a cantar dor
Tempos nos quais apareceste
Com um traidor,
Um falso cantor.
E com essa traição,
Destruíste o meu amor,
A minha canção,
E a minha paixão.

Relembro os tempos,
No quais eu vivi,
No quais eu sorri,
No qual aprendi,
A dizer amor
E também dor.
 Francisco Barata