No Verão de 2009, ao passear à beira-mar na Praia da Vieira, encontrei uma semente como nunca tinha visto, com a forma de um disco achatado e cerca de 3cm de diâmetro. Pensei como é que ela poderia ali ter chegado. Poderia ter vindo a flutuar desde zonas tropicais, ou poderia ter sido lançada de um navio, o refugo de contentores que transportam plantas secas que estão à venda nas lojas de decoração... Levei-a para casa e guardei-a.
Alguns meses mais tarde, estava a ver na BBC Prime um episódio da série "Coast", quando mostraram um indivíduo que, numa aldeia da costa inglesa, se dedicava a coleccionar objectos trazidos pelo mar. Mostraram o barracão onde ele guardava o espólio e um caixote cheio de sementes iguais à minha. Fiquei a saber que em inglês se chamam "sea hearts", corações do mar.
Uma pesquisa na net levou-me ao fascinante mundo das sementes e frutos que flutuam nos oceanos da Terra. Há muitas dezenas de espécies, provenientes em especial das zonas tropicais. Algumas percorrem distâncias enormes e podem manter-se a flutuar durante trinta anos. Há pessoas que as estudam, coleccionam e comercializam, muitas são usadas na bijutaria. A minha semente pertence a uma espécie de leguminosa trepadeira da Améica do Sul, Entada gigas, abundante nas bacias do Amazonas e do Orinoco, cujas vagens podem atingir 2 metros de comprimento. Ao caírem nos rios são levadas até ao mar e seguem para norte, na corrente do Golfo acabando algumas por atingir as praias da Europa ocidental.Tradicionalmente foram usadas para fazer porta-moedas ou como talismã para os marinheiros. A recolha dessas sementes nas costas europeias, antes da época dos descobrimentos, deu origem a muitas lendas de terras submersas ou de terras distantes. Diz-se que estas sementes, conhecidas nos Ares como "favas de Colombo", terá inspirado Cristovão Colombo na procura do Novo Mundo.
Jaime braz
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