Como falar se são os lábios que nos tocam? Como viver estando preso dentro de um armário de madeira sem nunca ser tocado pelo calor e aconchego dos dedos, dormindo e vivendo silenciosamente ao lado de muitos outros iguais a nós? Como viver sentindo-nos culpados por não sermos de cristal mas apenas de vidro cobertos de pó? Desde que fora feito pelas mãos toscas e cheias de calos do vidreiro que o meu sonho era entrar nos salões de festa da Casa de Verão. Ver os cristais a reflectir a luz dos candeeiros dependurados e olhar para os azulejos, que cobriam toda a superfície, nos quais se dançavam valsas com passos leves e suaves como a brisa do vento. O meu desgosto de morte nesta vida era não ser de cristal, não dar luz, não ter beleza. Não ser como os que me rodeiam e saem à noite onde acontece magia, onde são acariciados, imaculados e não estão cobertos de pó. Onde não são esquecidos.ler mais aqui
Francisco Barata
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