domingo, 21 de novembro de 2010

Frenesim na Meia-Idade

- Olha. Olha quem está ali!
- Quem? O empregado?
- Não… aquele senhor com um casaco de cabedal luzidio sentado ao lado do balcão. Aquele com ar penteadinho.
- Não… não pode ser... Não é ele.
- Estou-te a dizer que é ele… olha bem. Vês como tenho razão?
- Ele agora também fuma? Nunca o vi fumar.
- Achas que ele fumava à frente das câmaras? Só se fosse uma marca de cigarros bem cara e mesmo assim duvido…
- Como é que uma pessoa como ele vem a este sítio tão “subúrbio”, com um cheiro tão reles?
-Olha, pediu um café. Agora está a mexê-lo, mas não deitou açúcar! Como é que ele consegue beber um café com um sabor tão amargo? Até me sinto mal por estar no mesmo café com uma pessoa com a sua classe, quanto mais beber do mesmo café!...assim sem classe nenhuma.
- Eu estou espantado! Já viste que o almoço dele é apenas café e cigarros… como é que é possível ele comer só isto?
- Deixa-me olhar bem para ele! É mesmo ele. Está velhote. Na televisão parece mais jovem.
- Ainda não acredito que seja ele…
- Mas olha que é.
- Ele levantou-se e vai sair. Ele vai sair!
- How are you this morning? Are you fine? Bye.
- Não posso. Ele falou para nós! Ele falou para nós!
- Podia morrer agora, e morria feliz… o meu actor preferido no nosso café, e ainda por cima, dirigiu-nos a palavra… como é que é possível? Ele é tão chique. Viste a classe dele. E o casaco tão fino.
- Deve ter-nos visto a conversar sobre ele…
- Pois, se calhar, foi.
- Boa tarde o que é que vão desejar?
- Café.
- E cigarros.
- Café e cigarros.
Francisco Barata

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