quarta-feira, 3 de novembro de 2010

“Tony Steinberg: Bravo Guerreiro Viking do Sétimo Ano” Um poema de Taylor Mali

Já alguma vez viram um navio Viking feito de paus de gelados
E de contraplacado? Com montinhos de fios castanhos a fazer de cordas,
Dezasseis remos feitos de pauzinhos chineses, e uma vela vermelha e branca
Feita de um pijama de bebé?


Eu já.

Ele morreu com a espada na mão e assim foi directamente para o céu.

Os Vikings por vezes enterravam os seus bravos guerreiros em navios
Ou largavam-nos à deriva a arder, uma ilha de chamas flutuante.
A alma do bravo guerreiro erguendo-se lentamente com o fumo.
Para compreendermos a vida na Escandinávia da Idade Média,
Temos de conhecer o navio Viking.

Então o projecto é o seguinte:
A turma tem de construir um navio Viking em miniatura.
Têm um mês. E Têm de trabalhar em conjunto.
Como guerreiros.

Este é o tipo de projecto pelo qual os alunos me conhecem.
Como o Projecto da Pirâmide Egípcia.
Alguma vez viram uma família de quatro pessoas à volta de uma mesa, depois do jantar,
Cada um segurando uma face triangular de uma pirâmide em miniatura até a cola secar?
Eu também não, mas a Sra. Steinberg disse que demorou 90 minutos,
E que, mesmo com o irmão mais novo num dos lados a reclamar,
Isto é estúpido! Isto é uma pirâmide estúpida, Tony!
Vais ter negativa.
Se eu tiver o professor Mali no próximo ano, a minha pirâmide vai ser muito melhor que esta!
Cala-te, cala-te meu #.%&#!
Não, não, não! Segura bem o teu lado ou juro que te mato quando a cola secar!
Foi o melhor tempo que eles passaram em família desde o Natal.

Ele morreu com a espada na mão e assim foi directamente
Para o céu, que os Vikings chamavam Valhalla.

Professor Mali, se isso é verdade, se eles iam directamente para Valhalla
Se morressem com a espada na mão,
Então, se fosse um Viking velho e estivesse a morrer de velhice,
Ele podia guardar a espada de baixo da cama
E quando sentisse que ia morrer, podia agarrar a espada?

Não sei se os deuses deles permitiam uma coisa dessas,
Mas parece-me uma boa ideia.

O Tony já estava a faltar há um mês, quando soubemos o que se passava.
E os 12 restantes sussurraram o nome da doença
Como se se pudesse apanhá-la ao dizê-lo em voz alta.

Tínhamos sido avisados. O Director da Escola tinha vindo à sala
E tinha dito que o Tony voltaria na sexta-feira.
Mas que ele tinha passado um mau bocado.
Os remédios que ele anda a tomar causaram-lhe a queda do cabelo,
E ele agora sente-se um pouco envergonhado.
Por isso não fiquem a olhar, não apontem, não se riam.

Eu sempre disse que preferia ensinar numa escola particular
Porque assim podia falar acerca de Deus
Sem estar a infringir a lei.
E, para alguém criado na fé Episcopal e que apenas
 ia à Igreja no Natal e na Páscoa, eu até falava muito em Deus.
Em História, claro, isso é natural.
Até mesmo o Projecto da Pirâmide Egípcia é essencialmente um exercício espiritual.
Mas como é possível estudar geometria e não acreditar em Deus?

Um Deus de planos e de pontos perfeitos,
Rodeado de anjos e mais anjos de vários graus.
Um tal Deus não daria cancro a um rapaz do sétimo ano.
Não lhe deixaria cair o cabelo com a quimioterapia.
Completamente careca, de casaco e gravata, uma sexta-feira de manhã.
E não me refiro só ao Tony. Nem um único rapaz da turma tinha cabelo;
Os outro 12 tinham rapado o cabelo em solidariedade.
Alguma vez viram 13 rapazes do sétimo ano carecas,
 todos a apontar uns para os outros, todos a olhar, todos a rir?

Eu já.

É uma bela visão. E quase tão marcante como 12 rapazes
Seis semanas mais tarde, agora com o cabelo à escovinha, num Sábado de manhã,
À porta da sinagoga, com as cabeças baixas,
 de mãos dadas, em círculo
em redor dos restos fumegantes
de um navio Viking em miniatura,
a alma do bravo guerreiro
erguendo-se lentamente com o fumo.  


Tradução de Jaime Braz

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